Antes de tudo, vale ressaltar que são dicas para aqueles que ainda têm dificuldades na execução da pirueta, para aqueles que já executam uma pirueta perfeita, é melhor não alterar nada em seu modo de fazer, continue apostando no que dá certo pra você. Afinal, o que dá certo pra alguns pode não dar certo pra outros.
No post anterior eu expliquei o passo a passo de como fazer uma pirueta simples en dehors com algumas dicas [clique aqui para ver], as mais importantes serão relembradas junto com outras dicas que também auxiliam muito na execução da pirouette.
Você já deve ter ouvido falar que o ponto mais importante para uma pirueta é descobrir seu eixo. Mas não é um único eixo, a pirueta pode ser feita em várias posições, e cada uma delas é composta por etapas diferentes. Aí que está o ponto chave da questão, é preciso encontrar seu eixo em cada etapa do tipo de pirueta a ser executada. Afinal, somos capazes de modificar nosso eixo central corporal 24 horas por dia de acordo com a forma como lidamos com as situações que fazem parte do nosso dia a dia. Cabe aqui uma imagem (do site anabotafogoboutique.com.br) pra facilitar a compreensão:
Assim, em uma pirueta simples é preciso primeiramente encontrar o eixo do retiré/passé com o pé de apoio o mais alto possível (ponta ou meia ponta). Para trabalhar isso o exercício mais indicado é permanecer estático o maior tempo possível nesta posição com os braços e todo o corpo posicionados da forma que estará durante o giro.
Feito isso poderá iniciar seu treinamento de piruetas em local amplo e seguro, longe de objetos ou pisos que possam te machucar ou atrapalhar. Também aconselho usar calçados/sapatilhas que deslizem no solo, mas que não sejam muito escorregadios. Caso você não tenha nenhuma experiência com piruetas, o mais indicado é que comece com piruetas simples de apenas um giro, à medida que for ficando fácil poderá aumentar gradativamente a quantidade de giros e também poderá alterar para piruetas feitas em outras posições (en attitude, en arabesque, à la seconde, etc).
Com o equilíbrio estático de cada posição bem trabalhado, é hora de treinar o equilíbrio dinâmico ao sair de uma posição para a outra em cada etapa da pirueta, principalmente no momento do relevé até a posição do giro, no nosso caso pro passé. Porque isso? Pois haverá uma mudança do eixo de uma posição para outra, e nosso corpo precisa assimilar essa mudança rapidamente para não desequilibrar. Para treinar é muito simples, basta repetir várias vezes essa troca de posição (relevé ao passé) até seu cérebro acostumar.
Lembrando que o relevé deve iniciar do plié na posição que iniciará o giro e depois do relevé deve manter o balance por algum tempo na posição que fará o giro (no caso passé com os braços em primeira). Outra dica que dou é fazer o passé finalizando com o pé de trabalho à frente do joelho quando a pirueta for en dehor e atrás do joelho quando for en dedan. Isso vai fazer com que sua perna ajude a forçar o giro automaticamente.
Sabemos que o plié é o que mais impulsiona a pirueta, independente da posição que originará o giro. Quanto mais aberto e afundado, maior será o impulso, o que ajuda a aumentar a velocidade. Porém, quanto mais aberto, o eixo do corpo terá um maior deslocamento ao fazer o relevé pra posição do giro e é isso que precisa ser bem treinado, e bem analisado, pois cada bailarino pode encontrar uma distância e força dos pés que seja melhor para chegar no eixo certo da sua pirueta.
E a busca pelo eixo ainda não terminou, após treinar o equilíbrio dinâmico com relevé pra posição do giro (passé), podemos ainda treinar nosso equilíbrio dinâmico em rotação fazendo primeiramente ¼ do giro, depois aumentando pra ½ giro e por fim em um giro completo. Feito isso, tente se equilibrar no final de um giro simples antes de pousar. Isso te ajudará muito a descer sem desequilibrar. Lembrando que todo o movimento é pensado, nosso cérebro é que comanda, e todo nosso corpo deve ser treinado para obedecê-lo.
Se você trabalhar essa consciência corporal perceberá que várias partes do seu corpo podem ser acionadas pra te ajudar. A começar pelas pernas, na hora do giro elas devem estar bem firmes, tanto a perna de apoio para sustentar o peso do corpo estando totalmente reta, quanto a perna de trabalho que não pode sair do lugar durante o giro para não alterar seu eixo e desequilibrar-se. Para isso a dica que eu dou é não forçar seu “en dehors” mais do que o seu normal. Se você focar muito no en dehors durante o seu giro, sua perna de trabalho poderá fechar/abrir mais durante o giro e atrapalhar seu equilíbrio. Por isso mantenha a perna de trabalho de coté, porém num ângulo que você consiga manter estático durante todo(s) o(s) giro(s).
Vocês já devem estar cansados de ouvir que tem que “encaixar o quadril”, mas na pirueta só isso não basta, os quadris devem estar alinhados um com outro, da mesma forma que se alinham com os ombros, ou seja, o tronco deve ficar todo reto como se fosse um único “bloco” retangular, quanto mais alinhado e firme estiver, mais fácil será equilibrar-se durante o giro, pois o eixo não sofrerá alterações. Para isso é preciso balancear a ação dos músculos dorsais com os do abdômen, pra nenhum agir mais que o outro e acabar inclinando o corpo. Exercícios abdominais e para costas ajudam a fortalecer os músculos para manter o giro estável. Assim como o pescoço também deve-se manter reto do início ao fim com a cabeça em linha reta horizontalmente e verticalmente (sem nenhuma inclinação, nem mesmo para cima). Para seu corpo se acostumar com essa ideia de “bloco”, recomendo treinar piruetas com as mãos nos quadris, sem mexer qualquer parte do tronco.
Vale lembrar também que muitas pessoas costumam torcer o tronco no momento em que o braço se abre pra pegar o impulso, mas o recomendado é que esse bloco permaneça alinhado antes mesmo do giro, deixando esse trabalho de impulso para o braço no momento em que se fecha rapidamente indo ao encontro do outro braço. Você pode treinar o movimento dos braços sem estar girando para que seu cérebro assimile o movimento.
Na hora do giro o ideal é que os braços estejam arredondados e firmes, mas na pirueta, quando colocados em primeira posição ao girar, pode ser mais fácil se aproximarmos os braços um pouco mais do nosso corpo, mantendo-os de forma arredondada. Isso facilita o ganho da velocidade, principalmente quando é preciso fazer mais do que um giro. Para melhor compreensão trago outra imagem do site anabotafogoboutique.com.br:
Quanto mais abertos estiverem os braços e as pernas, mais resistência terá o movimento, o que reduzirá a velocidade do giro. Assim, a ação de abrir os braços auxilia na hora de descer da pirueta, pois a diminuição da velocidade facilita e dá mais suavidade à finalização do giro. Com as pernas ocorre o mesmo, quando a pirueta é em attitude, en arabesque, à la seconde ou outras posições que as pernas estão mais abertas, é necessário maior impulsão do que nas piruetas simples ou sur le cou-de-pied.
Percebeu a quantidade de músculos que deverão ser acionados pra manter a compactação do corpo para que esse “bloco” não sofra alterações durante o giro? São músculos sendo contraídos dos pés até os ombros, mas isso não quer dizer que estão tensionados, eles só devem se contrair pra ficarem firmes durante o giro de forma compacta. Como eu já disse, nenhum músculo deve afetar a ação do outro, a ação de cada um é balanceada pra alcançar o alinhamento e então o equilíbrio. A quantidade de força necessária para cada movimento é calculada conforme a sua experiência.
Se para ter melhor equilíbrio durante o giro, todas essas partes do corpo devem atuar como se fossem um único bloco, porque não incluir a cabeça? É aqui que eu queria chegar, a cabeça tem outra função especial. Costumamos dizer que a cabeça é a última a sair e a primeira a chegar em um giro, por isso ela se vira rapidamente quando estamos de costas e permanece o maior tempo do giro pra frente. Além disso, seu olhar deve focar em um único ponto de referência que esteja alinhado horizontalmente e verticalmente à linha dos olhos.
Esse ponto deve ser escolhido antes mesmo do giro, de uma forma que a cabeça não se incline para cima, para baixo ou lateralmente. Isso não é à toa, nem por beleza. Muitas pessoas acreditam que fazemos isso para não ficarmos tontos, o que de fato auxilia, mas também não é sua principal função. Este movimento rápido e preciso da cabeça (e o foco do olhar) chamado de “spotting” ou “marcar cabeça”, além de auxiliar no equilíbrio é essencial para direcionar o giro e dar dinâmica ao tronco. Ou seja, sem o spotting é mais difícil terminar uma pirueta na direção correta, principalmente se ela for rápida e com muitas voltas.
Para treinar o spotting de uma maneira fácil, recomendo fazê-lo sentado(a) em uma cadeira de escritório que gira, marcar um ponto de referência na linha dos olhos e focar nele o tempo todo (não olhe pra nenhum lugar que não seja ele) e comece a girar em baixa velocidade mantendo sua cabeça direcionada ao ponto o maior tempo possível enquanto vai aumentando a velocidade. Treinar isso várias vezes ao dia ajuda muito, mas não exagere a ponto de cair ou sair tonto(a) por aí hein! Rsrs! Brincadeiras à parte, é preciso ter muito cuidado e garantir que não tenha nenhum obstáculo por perto, e também garantir que a cadeira não vá deslocar-se. Feito isso pode treinar o spotting em pé com giros em que os dois pés estejam no chão, ou apenas em um, mas com o pé todo no chão, aumentando a técnica até conseguir fazer uma pirueta com spotting e depois ir aumentando a dificuldade. Veja o vídeo:
Pra finalizar é sempre importante saber onde está errando, saber o que tem que mudar. Pra isso nada melhor do que analisar um vídeo da sua própria pirueta. Cada corpo é único e por mais que os professores tenham olhos atentos para correções, ninguém conhece seu corpo mais do que você, portanto você deve fazer uma autoanálise pra encontrar o que te proporcionará melhores resultados. Veja também esse vídeo explicativo sobre a dupla pirueta en dehors (em passé):
Mas… se eu nunca conseguir fazer uma pirueta? O erro está no meu corpo que aparentemente é saudável? É fato que alguns corpos são fisicamente mais fáceis de conseguir melhor equilíbrio, é o caso dos mais baixos em estatura, já que têm um centro de gravidade mais próximo do solo que os mais altos. Mas somos todos capazes, não podemos desistir. Inclusive, mesmo depois de aprender fazer muitas piruetas de forma perfeita, ainda podemos ter frustrações, dias em que bate uma tristeza e preocupação pois algo no giro não saiu. Se isso ocorrer com você, lembre-se das ferramentas necessárias para consertá-lo: consciência corporal, força e persistência, trabalhados da forma que você achar mais eficaz.
Dica bônus: Caso tenha uma meta de números de giros pra cada pirueta, comece contando deste número em ordem decrescente, é bem psicológico (e vocês devem estar rindo litros da minha dica maluca) mas ajuda principalmente em coreografias, até mesmo na pirueta dupla: 2… 1… palmas! Rsrs! 👏🏻😁
Eita textinho que virou textão hein, além dos exercícios mencionados eu ainda tinha muitos outros pra explicar com fotos, mas vai ter que ficar pra um próximo post. Outra questão é o uso da pirueteira. Essa deixarei pra vocês comentarem aí se ajudam ou atrapalham. Qual sua opinião? 🤷🏻♀️
Se possível compartilhe nossos posts para termos uma maior quantidade de pessoas trocando ideias por aqui. Nosso Blog é recente mas ainda virão muitos outros conteúdos interessantes, se assim Deus nos permitir! Desde já obrigada amorinhas e amorecos! 🥰😘