Colo de pé: O que isso influencia no Ballet?

Passados alguns dias de ausência no Blog devido às comemorações de fim de ano, cá estou com um assunto um tanto polêmico, principalmente para aqueles que vivem me pedindo dicas de exercícios pra melhorar o colo de pé. 😅

É comum ouvirmos que ter um colo/arco alto de pé é essencial pro(a) bailarino(a), mas não é bem assim bebê! No nosso insta @ballet_paratodos eu já expliquei sobre os tipos de pés e as sapatilhas de ponta adequadas para cada tipo, além das dificuldades que algumas bailarinas têm devido às formas anatômicas dos seus pés e de seus dedos. Para melhor entenderem trago esta imagem do site www.shoeinsoles.co.uk. Nela podemos ver a diferença entre os três tipos de arcos de pé.

Nossos arcos de pé são na maioria dos casos herdados pela nossa genética. Os arcos altos (pés cavos) ocorrem quando o arco do pé é muito alto, o que pode ser facilmente visto se os pés são mais curtos que o normal e são mais altos do que deveriam. Isso pode causar dores e tensão nos arcos, além de dificultar o uso de alguns tipos de sapatos. Outras condições que podem causar arcos altos são a doença de Charcot Marie Tooth e distúrbios como a paralisia cerebral.

Já os arcos baixos (pés chatos ou arcos colapsados) estão no extremo oposto do espectro. Quando o arco é mais baixo do que deveria, isso pode causar pronação excessiva e causar dor na parte interna do tornozelo, na arcada do pé, na parte externa do pé, na panturrilha e até no joelho, quadril e costas. Os arcos baixos podem provir não só da genética, como de uma anormalidade desenvolvida no útero ou se desenvolver mais tarde na vida por uma condição como a artrite, que afeta as articulações.

Contudo, o arco do pé é algo do corpo que dificilmente um exercício será capaz de modifica-lo. De acordo com a bailarina e professora Agrippina Vaganova (1969):

“O mais confortável para dançar em pontas é um pé cujos dedos têm o mesmo comprimento, como se “cortados”, com um arco baixo e um tornozelo sólido e forte. O pé que consideramos bonito na vida cotidiana, ou seja, com um arco alto, um tornozelo fino e bem torneado, dedos agrupados corretamente, dificulta a execução de movimentos em pontas, especialmente aqueles que exigem saltos em pontas. No entanto, embora esse corpo não possa ser sustentado sob todos os dedos dos pés, conforme exigido pelas regras do ballet, ele pode ser auxiliado por um trabalho aplicado para que o pé seja apoiado pelo maior número possível de dedos, e não fique com todo o seu peso apenas no dedão do pé.”

Viu só? O tão falado colo de pé não pode ser o foco! Se você é um bailarino que se entristecia pelo fato de ter pouco colo de pé (arco de pé normal ou baixo), pode se alegrar pelo fato de “teoricamente”  encontrar mais facilidade em ponta, só não pode esquecer de fortalecer cada músculo dos pés, de trabalhar a ideal sustentação nas articulações dos tornozelos e do trabalho en dehors das pernas, isso é o que faz a diferença!

Mas que exercícios posso fazer pra desenvolver meus pezinhos? Ah amorinhas e amorecos, isso é conteúdo pra um próximo post do nosso Blog que virá recheado de imagens e dicas legais! Até lá! 😘💜

REFERÊNCIA:

Vaganova, A. I︠A︡. Basic Principles of Classical Ballet: Russian Ballet Technique. Edição em Inglês. Dover Publications, 1969

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Este post tem um comentário

  1. Bruna

    Bom dia!! Conteúdo interessantíssimo e muito bom para quebrar o estigma dos pés “perfeitos” de uma vez por todas! Então, eu sou aquele 1% que nasceu abençoado geneticamente com “pé de bailarina”, porém só descobri isso depois dos 30 anos! Kkkk Estou agora estudando grau 3 em uma escola que se baseia pelo método Vaganova: desde o grau 2 faço pontas, notei como realmente eu tenho que fortalecer muito a musculatura interna do tornozelo para manter a estabilidade de movimento, acaba sendo “aparentemente ” um esforço maior que a média da minha turma! Não é falta de treino, não é falta de disciplina, é falta de conhecimento de propostas de exercícios específicos para o caso anatômico até o momento. Felizmente eu sou “casca grossa”, então (ainda!) nunca tive problemas com calos, mas essa questão abordada por vocês foi interessante mesmo! Pesquisei ainda ontem após a aula, quando uma das minhas professoras comentou que buscou estudar meu caso; ela disse algo que o normal é instruir os alunos uma rotina de fortalecimento para quem ainda está desenvolvendo ponta, que geralmente as pessoas têm força no calcanhar, mas ainda estão desenvolvendo essa força na ponta, e no meu caso é o contrário!!! Que eu já tenho uma grande força na ponta por conta do meu colo de pé (pé com arco), mas que meu tornozelo é muito fino e o calcanhar muito fraco para sustentar! É como se eu tivesse, por uma questão de segurança que sinto, ter que pegar leve na execução, então o movimento não fica tão explorado e vivenciado como se espera numa evolução. Estou sentindo na prática os efeitos e fico normalmente fazendo execuções com cautela para não cair ou me lesionar e, dessa forma, “perco” o espontâneo da dança… Tenho realmente muita amplitude para en dehors, mas meu pé é “frouxo”. Eu gostaria de saber se há dicas para esse 1% para iniciantes começarem ou programarem exercícios extras de forma segura? Existem sapatilhas específicas que vocês possam sugerir? Uma coisa que já mudou muito a minha vida é ter posto fita elástica profissional para aliviar a dor no tornozelo fino (era surreal dizer que eu sentia muita dor da fita de cetim apertando meu tornozelo e que não sentia dor na ponta!) e ainda estou buscando nivelar meus dedos (sinto muita pressão ainda no dedão), mas ainda sinto esse risco iminente de lesão ou queda… É quase uma situação de inclusão social! Existem materiais pedagógicos adaptados para este caso? Kkk Abraços! Bruna Maciel, em Manaus/AM.

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